Programa Saúde na Floresta

Projeto realizado pelo CEAPS/ Projeto Saúde & Alegria em 143 comunidades ribeirinhas dos municípios de Santarém, Belterra e Aveiro, oeste do Pará - Amazônia/Brasil

sexta-feira, agosto 11, 2006

Barco “Abaré” de Atendimento em Saúde será inaugurado em Santarém




A proposta é levar Saúde e Alegria aos povos da floresta

Foto: José Egas



No dia 22 de agosto um barco vai navegar pela primeira vez as águas azuis do Rio Tapajós, no município de Santarém e Belterra, no Pará. Ele não vai à procura de peixe, nem mesmo transporta turistas. Sua equipe será composta de médicos, enfermeiros e educadores, que percorrerão as comunidades ribeirinhas para dar resposta a um dos seus maiores desafios: a melhoria do acesso aos serviços de saúde. O Barco construído em Manaus, chegou em Santarém no último dia 03 de agosto. Será inaugurado oficialmente no dia 22 à tarde numa cerimônia na Orla de Santarém como parte do II Encontro do Programa Saúde na Floresta, partindo no dia seguinte para iniciar os trabalhos na região do Tapajós.

Não por coincidência, o barco ganhou o nome de Abaré - sugerido pelos próprios comunitários a serem beneficiados - que em tupi significa o cuidador ou individuo dedicado aos demais. Ajudar a construir saúde nas comunidades ribeirinhas, levando os serviços essenciais e educação será tarefa principal desta embarcação, equipada para funcionar como uma unidade móvel de atenção básica à saúde.

A iniciativa compõe o Programa Saúde na Floresta, capitaneado pelo Projeto Saúde & Alegria - PSA - com o apoio da Terre des Hommes Holanda (TdH-NL), em conjunto com as Prefeituras Municipais de Santarém, Belterra e Aveiros, Federações das Comunidades da Flona Tapajós, Resex Tapajós-Arapiuns, Gleba Lago Grande, Conselho Nacional do Seringueiros e Sindicatos de Trabalhadores Rurais das regiões envolvidas.

Através do Programa Saúde na Floresta, iniciado em julho de 2003, o PSA – que atua desde 1987 na região promovendo ações de desenvolvimento comunitário sustentável – ampliou sua cobertura direta de 31 para 143 localidades situadas principalmente na Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns, Floresta Nacional do Tapajós e áreas de entorno, beneficiando uma população de aproximadamente 5000 famílias, perfazendo um total de quase 30 mil pessoas.

Em sua primeira etapa, com o apoio complementar do BNDES ao suporte que já vinha sendo dado pelo TdH-NL, o Programa priorizou a melhoria das condições de higiene e saneamento, beneficiando aproximadamente 2500 famílias com sistemas de água encanada em suas próprias casas, outras 1500 famílias com água de qualidade oriunda de poços semi-artesianos, praticamente 100% da população envolvida – 5000 famílias – com pedras sanitárias, filtros de água e acesso ao cloro para tratamento da água de consumo. Tudo isso sempre acompanhado de um forte trabalho educativo e de organização comunitária através da implantação de rádios comunitárias para mobilização em saúde, instalação de rádio-amadores para agilizar a comunicação campo-cidade, e realização regular de oficinas preventivas de capacitação em higiene e saneamento para os moradores.

O programa trouxe impactos positivos imediatos na saúde das comunidades, principalmente pelo acesso à água tratada e melhoria das condições sanitárias, como afirma o Agente Comunitário de Saúde, Djalma Lima, da localidade de Suruacá: “pudemos evitar doenças simples, mas que acabavam se tornando graves, como a diarréia que afetava principalmente as crianças. Hoje a mortalidade infantil diminuiu bastante”, afirma.

As características peculiares da região amazônica, como as longas distâncias, dificuldades de transporte e comunicação geram o grande desafio da inclusão das comunidades ribeirinhas aos serviços básicos de saúde. Dona Conceição Pantoja, moradora da comunidade de Jamaraquá, na Flona Tapajós, afirma que nos casos de doença, “é preciso fazer um longo deslocamento daqui da comunidade até Santarém ou Belterra. As estradas são bem difíceis e pelo rio são horas de viagem. Além disso, é difícil a condição financeira para se manter na cidade acompanhando um doente”.

Caetano Scannavino, coordenador do PSA, reforça essa realidade: “a saúde no Brasil ainda é um desafio. Mais ainda no contexto dos municípios amazônicos, com dotações orçamentárias limitadas e enorme demanda. Um ponto importante a destacar no Programa Saúde da Floresta é o conjunto de parcerias firmadas no sentido de somarmos esforços de forma integrada com as Prefeituras para oferecermos respostas a este desafio. Acreditamos ainda que o Programa poderá se constituir numa referencia demonstrativa contribuindo como um exemplo concreto para sua replicação via políticas publicas em outras regiões”.

E vai além: “Nesta primeira etapa, focamos no saneamento. O próximo passo é o fortalecimento do componente assistencial. O inicio do funcionamento da “ambulancha” em 2005 para o atendimento de casos de emergência e a entrada na água do barco Abaré são marcos históricos neste sentido”.

Cabe lembrar que tudo isto só foi possível através do apoio do Terre des Hommes Holanda – uma organização sem fins lucrativos que se dedica a apoiar projetos sociais ao redor do mundo – parceira do Projeto Saúde e Alegria desde 2001 em atividades de prevenção e atenção à saúde, e também responsável pelo financiamento da construção e equipagem da lancha-ambulância (“ambulancha””) e do barco Abaré.

“A ambulancha e o barco Abaré de atendimento em saúde são exemplos de soluções concretas com a qual podemos influir na vida de milhares de pessoas. É uma grande satisfação para Terre de Hommes Holanda poder ser parceira em um projeto deste porte”, comenta Patrick Krens, Coordenador Regional do TdH-NL.

O Prefeito de Belterra, Sr. Geraldo Pastana, ressalta que a parceria, agora com a incorporação do barco, fortalecerá o serviço de saúde no município: “Na verdade, estamos criando uma rede integrada, formada pelo barco, o Programa Saúde da Família e os Agentes Comunitários de Saúde na margem direita do rio Tapajós”.

Seu João Lopes, presidente da Federação das Comunidades da Flona Tapajós, comemora: “Imagine só a grande expectativa que isto cria em nós. Só para dar um exemplo, antes eu tinha um pequeno barco que transportava doente para Santarém em 14 horas de viagem. Imagine agora nós podermos ter dentro da Flona e na Resex um barco que vai atender as comunidades lá mesmo. Esse barco vai trazer mais alegria, mais vontade de viver na zona ribeirinha, viver com saúde na floresta!”, argumentou.

O barco vai atuar nas duas margens do rio Tapajós para oferecer acesso aos programas da atenção básica como pré-natal, PCCU, planejamento familiar, hiperdia, imunizações, saúde oral, saúde da criança, atendimentos médicos, pequenas cirurgias, atendimentos ambulatoriais e realizações de exames de rotina preconizados no programa.

A educação para promoção e proteção à saúde será uma das principais bandeiras do Barco por onde passar, juntamente com a rede de Agentes Comunitários de Saúde - ACS. Esse é também o entendimento do ACS Djalma Lima: “Esse barco vai trazer várias mudanças não só de assistência, mas em termos de prevenção também. O trabalho preventivo torna a assistência menos necessária e com menos gastos”, destaca.

A integração com as Políticas Públicas será outro componente importante do Projeto. Através das parcerias com as prefeituras municipais, a proposta é integrar os serviços do Barco ao Sistema Único de Saúde – SUS, aprimorando as bases para consolidar um modelo de atenção à saúde que seja apropriado para as populações ribeirinhas da Amazônia.

Após sua inauguração no dia 22, o Barco vai fazer sua primeira viagem de atendimento até a comunidade de Maguari e Jamaraquá, na Flona Tapajós, no município de Belterra. É lá que mora dona Conceição Pantoja que aguarda com expectativa a chegada do Barco. “A gente vai ficar muito feliz, porque isso era um sonho que a gente está vendo ser realizado. Aqui na nossa comunidade, vamos mobilizar todo mundo para ver juntos a hora que ele chegar, vai ser uma grande festa”, comemora Dona Conceição.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Parabéns . Um forte e caloroso abraço por mais está conquista.

Democracia também se faz com coragem, ousadia e um profundo compromisso com
a gente da Amazônia.

O Barco Baré é sobretudo um presente para a infância e a juventude desse
naturalmente bonito canto do mundo que, com a militância e o trabalho de
vocês, fica socialmente mais justo e contribue para a humanidade avançar.

Um dia desses quero ter o privilégio de trabalhar a bordo, na condição de
voluntário-pregador dos direitos da criança e do adolescente, em uma dessas
viagens de bem querer que vocês já devem estar preparando

Parabéns mesmo.

Marcelo
Unicef

9:42 AM  

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