Programa Saúde na Floresta

Projeto realizado pelo CEAPS/ Projeto Saúde & Alegria em 143 comunidades ribeirinhas dos municípios de Santarém, Belterra e Aveiro, oeste do Pará - Amazônia/Brasil

terça-feira, agosto 22, 2006

Termina hoje o II Encontro do Programa Saúde na Floresta


Mais de 250 representantes vindos de 143 comunidades ribeirinhas atendidas pelo Programa Saúde na Floresta estiveram reunidos no Centro de Formação Emaús na cidade de Santarém nos dias 21 e 22 de agosto. No encontro promovido pelo Projeto Saúde & Alegria - PSA com o apoio da Terre des Hommes Holanda - TdH, Fundação Ford, Fundação Konrad Adenauer e BNDES os participantes discutiram a atenção básica em saúde nas áreas rurais.

Vivendo principalmente às margens dos rios Tapajós e Arapiuns, os participantes, em sua maioria Lideranças Comunitárias e Agentes de Saúde sabem bem os desafios de suas comunidades na área da saúde. As distâncias dos centros urbanos, as dificuldades de comunicação e transporte são condições que influenciam nas dificuldades de acesso dessas comunidades aos serviços públicos de saúde.

Contradições peculiares à realidade da Amazônia também são objeto de discussão. Numa região onde o rio é sempre uma constante na vida do ribeirinho, o acesso à água de consumo tem seus problemas. Na época da vazante o rio fica longe demais. Na época das cheias, as águas ficam impróprias para o consumo sem tratamento. O resultado são altos índices de doenças como diarréias, endemias, entre outras, que afetam principalmente as crianças.

Foi nessa realidade que o Programa Saúde na Floresta, capitaneado pelo PSA em conjunto com diversas organizações parceiras enfrentou o desafio de melhorar as condições sanitárias, de higiene e saneamento das comunidades.

Este II Encontro aconteceu para avaliar os resultados e os aprendizados do Programa até o momento, bem como para planejar de forma participativa os próximos passos.

Na abertura do evento, um clima de muita alegria tomou conta do público. A integração dos comunitários logo foi promovida através de dinâmicas conduzidas pelo coordenador de Educação do PSA, Magnólio de Oliveira.

Na mesa de abertura, as falas deixaram transparecer que o momento era de comemorar os resultados. Para Caetano Scannavino, coordenador geral do PSA, “a saúde é um direito de todos, uma responsabilidade do estado, mas também uma co-responsabilidade do cidadão. Por isso é que a união de forças entre o PSA e seus apoiadores, as prefeituras e as organizações comunitárias foi fundamental para o sucesso do programa”.

A coordenadora nacional do Terre des Hommens Holanda, principal organização apoiadora do programa, Márcia Iglesias, destacou o papel da entidade. “Como o próprio nome da organização já significa terra dos humanos, nós temos apoiado projetos que melhoram a qualidade de vida principalmente de crianças e adolescentes em várias partes do mundo. E no Brasil temos este projeto quem traz agora seu componente mais importante que é o navio Abaré, que já está ancorado em Santarém”.

Para Ivete Bastos, do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Santarém, “a satisfação maior é ver em cada pessoa a expressão da vitória, de tudo aquilo que foi conquistado em termos de saúde, da melhoria da qualidade de vida dos moradores da área rural”.



A importância da organização comunitária

Todo o processo de implantação do Programa Saúde na Floresta vem acompanhado de um forte trabalho de organização comunitária, tanto para que as próprias comunidades possam gerir as infra-estruturas implantadas, como para fortalecer o papel de suas organizações representativas no controle social das políticas públicas de saúde.

Seu João Lopes, presidente da Federação das Comunidades da Flona Tapajós disse que “o projeto ajudou as organizações comunitárias a ter um maior entendimento do seu papel na área da saúde”. Do mesmo modo, Célio Aldo, representante da Tapajoara – Organização das Comunidades da Resex, afirmou que “quanto mais a comunidade está organizada, mas ela consegue benefícios”. O representante da FEAGLE – Federação do Assentamento Agroextrativista do Lago Grande disse “assim como nas outras lutas do povo, a melhoria do acesso aos serviços de saúde deve ter a participação ativa das comunidades”, completou.



Descentralização e integração às políticas públicas

O Programa Saúde na Floresta visa demonstrar a viabilidade de um modelo que envolve a implantação de infra-estruturas de saneamento, a mobilização para educação e prevenção e a participação comunitária na gestão da saúde publica, que tenha custos reduzidos, promova a inclusão e tenha alto impacto social. Para isso é fundamental a integração às políticas públicas de saúde dos municípios envolvidos.

É o que reforça o Prefeito do Município de Belterra. Geraldo Pastana disse que “a inovação que está sendo feita pelo projeto deve orientar para que essa experiência se torne efetivamente uma política pública. Estamos criando uma rede que descentraliza o atendimento da saúde da cidade para as comunidades, ligando com elos fortes o trabalho dos Agentes Comunitários de Saúde, os Postos do Programa Saúde da Família em comunidades pólos, e principalmente o nosso barco Abaré que vai poder passar de comunidade em comunidade”, afimou.

Números do Programa

Desde seu inicio o Programa já implementou diversas infra-estruturas que vem ajudando a melhorar a qualidade de vida da população. Foram: 20 micro-sistemas de abastecimento de água, 62 kits de fabricação de cloro, 176 poços semi-artesianos, 4.402 pedras sanitárias, 4.549 filtros de água e 07 postos de saúde. E para apoiar o componente educativo, equipamentos para 31 rádios comunitárias, instalação de 77 rádios-transmissores (amador) e 20 oficinas de capacitação para agentes locais sobre higiene e saneamento. Tudo isso beneficiando cerca 5 mil famílias.

Os indicadores de saúde acompanhados entre os anos de 2001 e 2005, no qual essas ações associadas a outras iniciativas do PSA tiveram forte impacto, mostram que a desnutrição diminuiu de 35% para 10%, os casos de diarréia de 30% para apenas 07%, as dermatites de 50% para 22% e a cobertura vacinal saltou de 50% para 98% das crianças.

O Abaré vem aí

O Navio Abaré vai funcionar como uma Unidade Móvel de Saúde para atender as duas margens do rio Tapajós, aproximadamente 2600 famílias ou 13.000 beneficiários de 73 comunidades, promovendo o acesso aos programas da atenção básica como pré-natal, PCCU, planejamento familiar, hiperdia, imunizações, saúde oral, saúde da criança, atendimentos médicos, pequenas cirurgias, atendimentos ambulatoriais e realizações de exames de rotina preconizados no programa. A maior expectativa agora dos participantes do II Encontro do Saúde na Floresta é a cerimônia de inauguração do Navio que acontecerá hoje, dia 22 à tarde na orla de Santarém.