Abaré ajuda a salvar vidas
A rotina dos profissionais embarcados no Abaré seria comum a qualquer unidade de atendimento em saúde de qualidade se não houvessem alguns elementos peculiares da realidade da amazônia e do trabalho do PSA: o próprio fato de estarem em um navio, o lúdico para a educação, o elemento rio e o isolamento em que se encontram a maioria das comunidades atendidas. Apenas levar assistência e cuidados básicos de saúde já justificaria o esforço da equipe. Mas são casos como o de Erito, como nos conta Fábio Tossi, médico do Abaré, que mostram ainda mais a importância do trabalho desenvolvido:
“O Erito foi um paciente, uma criança de nove meses atendida no Abaré, numa situação inusitada porque nós estávamos na margem direita do rio Tapajós e de repente no meio de um outro atendimento recebemos uma bajara que tinha atravessado o rio da margem esquerda para a direita. Naquela altura o rio é muito largo, com mais de 15 km.
Na canoa estava um casal com a criança no colo, inconsciente, chocada, numa situação clínica crítica, pedindo que a gente atendesse a criança. A gente realizou o atendimento que foi um caso de ressuscitação, pois a criança estava chocada, há vários dias em estado de coma, um quadro infeccioso bastante grave proveniente de uma diarréia. E nós tratamos aquela criança no meio do rio Tapajós! O atendimento passou por diversas etapas até tirar a criança daquela situação muito crítica e depois transportá-la até Santarém, levando todos os equipamentos que nós tínhamos no barco: monitorização de saturação de oxigênio, eletrocardiograma, soro, secção venosa, antibiótico. Enfim, tudo aquilo para trazer ela num estado estável até o pronto-socorro da cidade de Santarém, quando ela recebeu a continuidade do tratamento.
Foi uma experiência emocionante porque era uma situação crítica, inusitada, que exigiu uma atenção especial, que a estrutura do Abaré conseguiu dar, fazendo um suporte hemodinâmico e respiratório para que a criança fosse transportada a tempo até Santarém. A gente viu que o Abaré começa a mudar um pouco o perfil de atendimento nas comunidades ribeirinhas. Apesar de estar preparado para os atendimentos básicos, ele consegue também dar suporte nessas situações mais críticas. E tivemos a grande satisfação de ver agora a criança viva e feliz com seus pais”.
Depoimento de Estrela dos Santos Oliveira:
“Aconteceu é que a mais de um mês meu filho começou a ficar doente com uma grande diarréia... A gente mora muito longe da cidade. Só tem barco duas vezes na semana para a cidade, e a distancia é de 15 horas de viagem de Santarém. Quando nós vimos que o caso dele era grave, fomos procurar um pajé. Ele benzeu, rezou, mas disse que não ia dar jeito. Ele mesmo nos orientou que viéssemos para a cidade procurar ajuda, mas a gente não tinha como vir”.
Seu Lucivaldo Caetano Monteiro:
“Ficamos sabendo que o Abaré estava na outra margem do rio. Atravessamos de bajara até lá e fomos logo atendidos. A gente tinha ouvido falar desse Abaré, mas eu nem acreditava muito. Só acreditei quando estava lá dentro com meu filho sendo atendido. Eu achei que foi um caso muito triste e ao mesmo tempo bom, porque não tínhamos muita esperança que nosso filho ia viver. Mas os doutores ajudaram muito nós, toda a equipe do Abaré, e graça a eles meu filho está bem”.
O casal Estrela dos Santos Oliveira e Lucivaldo Castro e seu filho Erito Oliveira de apenas nove meses, moradores da comunidade de Jauarituba, na margem esquerda do rio Tapajós.